Helldivers II - Análise

Do momento em que ligo Helldivers 2 pela primeira vez até ao momento que sou dilacerado por uma horda de insetos gigantes, passaram-se cerca de 15 minutos, mais coisa menos coisa. Pelo meio, completei o meu treino básico, disseram-me que era um herói e apercebi-me que não há nada melhor que a democracia, e quem diz o contrário é um traidor da Super Terra.

Confesso que não foi preciso muito para me convencer. Helldivers 2 não perde um único segundo para me colocar na linha da frente, onde estão os inimigos mortais da Super Terra e a diversão - dois ingredientes em abundância neste shooter cooperativo.

Helldivers 2 tem duas grandes influências, embora uma delas não seja assim tão frontal. A primeira não engana - o filme de 1997 de Paul Starship Troopers de Paul Verhoeven faz parte do ADN do jogo e apresenta-se com um sentido de humor reforçado e levado aos limites, numa sátira exagerada e chauvinista de um regime militarista que controla e molda todos os elementos da humanidade.

A segunda influência, menos evidente, vem dos Top Down SHMUPs ou não fosse o primeiro Helldivers um jogo desse género. A transição para um formato a três dimensões trouxe consigo algumas mecânicas típicas, sendo a maior delas o ligeiro atraso que existe entre o movimento da nossa mira e a mira do nosso personagem. Pode ser um pequeno detalhe, mas faz toda a diferença - não só concede um peso notável a todas as armas, como também quebra um dado adquirido de praticamente todos os shooters modernos, onde a nossa mira replica fielmente os movimentos das nossas mãos, traduzindo qualquer reflexo, por muito pequeno que seja, num tiro certeiro com uma precisão de laser.

Sem uma campanha estabelecida, as nossas missões são geradas de forma aleatória, numa guerra eterna contra insetos gigantes ou robõs dignos de um filme do Exterminador. As várias frentes têm planetas para libertar, e cada um deles oferece missões para todos os gostos. Esta guerra tem um elemento comunitário: cada missão bem-sucedida liberta uma percentagem dos planetas, o que ajuda a construir um sentimento de escala e a dar-nos mais razões para voltar à linha da frente, servindo também para criar um elemento live-service de constante evolução que vale a pena.

É quando tocamos com as botas no chão que Helldivers 2 mostra o melhor que tem para oferecer. A ação é praticamente constante e diabólica, os inimigos não têm fim, e a diversão também não. A estrutura das missões é relativamente simples, mas diversificada ao ponto de não se tornar aborrecida e monótona. Das tarefas mais simples, que passam por eliminar um inimigo particular, até às mais complexas, que acarretam várias etapas, como encontrar um disco rígido para depois o levar a uma torre de comunicação que precisa de ser recalibrada, o desafio é constante e nunca temos qualquer sensação de segurança.

A ação é visceral e dispensa qualquer tipo de indicador de dano, não há números a saltar com o impacto das nossas balas ou barras de vida, aliás nem a nossa faz assim tanta falta, isto porque Helldivers 2 comunica visualmente o dano que infligimos e que recebemos - peças de metal que saltam, robõs que perdem as pernas e se arrastam pelo chão, membros de insectos que rebentam numa explosão de gosma colorida - quem precisa de matemática quando se tem liberdade?

Helldivers 2 não tem duas missões iguais: os objetivos até podem ser os mesmos, mas cada incursão tem o potencial de se desenrolar de forma radicalmente diferente da última. Para além dos objetivos principais, há mais coisas para fazer, bases para destruir, pontos de interesse que se podem traduzir em armas adicionais, créditos, ou amostras, que depois podem ser trocados por upgrades e equipamento na nossa nave, como é o caso dos Strategems, que podem ser usados para pedir armas novas, torres automáticas, uma chuva de lasers, morteiros ou bombas de meia tonelada - tudo o que for preciso para garantir a liberdade e democracia™.

Fora do combate, o sistema de progressão de Helldivers 2 é generoso. Há armas para desbloquear no Battle Pass gratuito e na sua vertente paga, mas nenhuma delas aparenta oferecer uma vantagem inerente às versões básicas. Depois temos upgrades que melhoram os nossos Stratagems e que são essenciais para correr missões nas suas dificuldades mais elevadas. Até as próprias microtransações cosméticas fazem justiça ao nome, com preços reduzidos para a norma atualmente praticada em muitos outros jogos.

Sendo um shooter cooperativo, não há melhor forma para jogar Helldivers 2 do que com amigos. Irremediavelmente, o caos das batalhas ganha um novo significado, o trabalho de equipa exponencia a qualidade da ação e cada momento tem o potencial de se tornar inesquecível. Uma bala perdida que atinge por engano um aliado, uma explosão descuidada que nos desfaz, uma extração no último segundo, Helldivers 2 é das melhores experiências cooperativas que já experienciei nos últimos anos. Infelizmente, os servidores e o matchmaking de Helldivers 2 está a sofrer com o sucesso do jogo, e ao longo da última semana deparei-me com imensa instabilidade, dificuldade em ligar-me aos servidores e uma ou outra disconeção a meio de uma missão.

Não fosse esta instabilidade dos servidores e não teria parado de jogar Helldivers 2 nas últimas semanas. O shooter cooperativo do Arrowhead Studios é fantástico por si só e uma verdadeira lufada de ar fresco num cenário cada vez mais saturado por títulos repletos de microtransações, Battle Passes, missões diárias, semanais e todo um sem fim de esquemas para nos manter a jogar por mais tempo, quando tudo o que é preciso é gameplay puro.