Elden Ring: Shadow of the Erdtree - Análise

Na sombra da grandeza.

Poderia começar esta análise por dizer que Shadow of The Erdtree é mais do mesmo. Na esmagadora maioria dos casos, isto seria algo negativo, mas Elden Ring é um exemplo raro e aqui, mais do mesmo é algo de bom. No entanto, e ainda que a muito aguardada expansão não revolucione a fórmula do estúdio FromSoftware, nem vire das avessas Elden Ring, consegue superá-lo num ponto que não estava à espera: na construção de um novo mundo, que deixa na sombra o original, que já era incrivelmente arrebatador.

Da mesma forma que Elden Ring nos dá as boas-vindas com a icónica ascensão em Limgrave, onde saímos de uma gruta escura para ficarmos com as Lands Between aos nossos pés, Shadow of the Erdtree repete a façanha - sim, sei que é o mesmo truque, mas nem por isso deixa de ser menos espantoso. Neste aspeto, o FromSoftware conseguiu um mundo ainda mais incrível que em Elden Ring, muito graças à sua verticalidade. Numa entrevista, Hidetaka Miyazaki disse que o mundo da expansão teria a mesma dimensão que Limgrave, o que ao longo da minha viagem se mostrou como um dos maiores eufemismos que li nos últimos tempos.

Repleta de perigos, a Land of the Shadow espicaçou constantemente o meu desejo de exploração. Consigo ver vales no horizonte, campos de flores azuis, cascatas e desfiladeiros com escadarias convidativas, mas não sei como chegar lá. Perdi conta às horas que passei às voltas no mapa, em busca de uma forma de chegar aos sítios que conseguia vislumbrar no horizonte, sempre entretido por tudo o que ia encontrando neste processo, até porque não faltam segredos para desvendar na Land of the Shadow.

Esta é a grande magia deste mundo: o destino é claro, mas a jornada está por nossa conta.

Pelo meio, o FromSoftware ainda consegue subverter as expectativas. Não só pela variedade dos biomas que podemos visitar, mas também pela abordagem ao gameplay. Sem querer entrar em demasiados detalhes para não estragar surpresas, há uma zona em particular onde fui forçado a esgueirar-me por entre arbustos para não ser detectado por monstros invulneráveis, como se estivesse a jogar um survival horror; noutro caso, visitei uma dungeon que transformou o jogo numa espécie de platformer e que quase me fez arrancar os cabelos. As Legacy Dungeons, nome dado aos níveis mais complexos que tipicamente culminam num Boss, também estão ao nível do FromSoftware, embora visualmente não mostrem nada que não tenhamos visto em Elden Ring. O destaque recai na Shadow Keep, uma fortaleza que une várias regiões do mapa e que esconde várias entradas e saídas - muitas horas depois de ter derrotado o boss que lá morava, descobri um caminho alternativo que me abriu as portas para toda uma nova região.

Não sei como lá chegar, mas sei que quer lá ir.

Quanto ao combate, não esperem facilidades na Land of Shadow. Mesmo com um personagem de nível 120, com uma build praticamente completa, até os inimigos mais corriqueiros foram capazes de me matar num par de investidas ou num pequeno descuido da minha parte. Não há qualquer sinal de misericórdia neste sentido e os bosses são ainda mais desafiantes que a maioria dos que encontrei em Elden Ring. Mesmo os primeiros que encontrei deram-me tareia após tareia, até perder a conta das vezes que li no ecrã “You Died.” Sim, é inegável o sentimento de frustração de perder constantemente, de entrar numa arena e ser imediatamente aniquilado por um ataque que não estava à espera, de me considerar um perfeito idiota por não ter contemporizado uma esquiva no momento certo, mesmo depois de ser fustigado pela enésima vez pelo mesmo ataque, mas tudo isto se desvanece por completo quando finalmente tombo o boss. Bater um boss continua a ser uma sensação de êxtase inexplicável, que transforma por completo o desespero que senti e me faz esquecer os palavrões que vociferei a cada morte.

Inevitavelmente, bater os bosses ou os inimigos mais difíceis é uma questão de habilidade, o clássico “Git gud,” mas também ajuda angariar fragmentos Scardutree - itens que podem ser transformados em buffs, que aumentam o dano que infligimos, reduzem o dano que recebemos - e Revered Ashes, que aplicam o mesmo efeito nos nossos Summons. Ao contrário dos atributos do nosso personagem, que podem ser aumentados quando subimos de nível e que por isso mesmo podem ser melhorados em qualquer altura, desde que tenhamos paciência para o grind, estes fragmentos são limitados e apenas podem ser encontrados em locais específicos do mapa ou quando derrotamos alguns inimigos.

O mundo da Land of Shadow é completamente arrebatador, mesmo sem largar os seus traços sombrios.

Nalguns momentos, vi-me completamente bloqueado contra um boss em particular, e a solução passou por explorar a fundo outras zonas em busca destes itens. Não que isto seja um remédio santo para os bosses, mas acaba por ser a diferença entre morrer com dois ataques ou sobreviver e ser capaz de continuar a lutar.

Não obstante a sua dificuldade, que vai deixar marcas na minha mente, nenhum dos bosses com quem medi forças em Shadow of The Erdtree teve um impacto tão grande como os de Elden Ring, pelo menos a nível do espetáculo. Nenhum deles esteve à altura ou sequer perto do melhor que o jogo base ofereceu - não há nada que fique perto da luta contra o General Radahn naquele campo de batalha eterno, o embate contra Astel ou Renalla em arenas cósmicas ou claro, a incrível luta contra Malenia numa arena de flores e podridão.

Na minha análise a Elden Ring, escrevi que o enredo do jogo é muitas vezes impenetrável, algo que até hoje mantenho. Mas desde que foi lançado Elden Ring que tenho vindo a ouvir com especial curiosidade os vídeos e teorias daqueles que se desdobram em esforços para explicar este mundo e a sua história. Facto é que ganhei um especial apreço pelo FromSoftware e George R.R. Martin criaram em Elden Ring, mas receio que vá precisar de mais uns quantos historiadores para me ajudar a decifrar os avanços de Shadow of the Erdtree.

No caso específico do DLC, a quest principal tem um impacto significativo na narrativa de Elden Ring, mas temos outras linhas narrativas paralelas - acabei por derrotar um dos bosses de uma destas linhas narrativas, sem perceber muito bem a sua história ou como se encaixava neste mundo - pura e simplesmente esbarrei me com a sua enquanto explorava o mundo.

Estaria a mentir se dissesse que não estou interessado em saber mais sobre todas nuances deste mundo, mas vou ter de esperar pela ajuda da comunidade. Talvez este seja mesmo o ponto forte da narrativa de Elden Ring e Shadow of The Erdtree - a forma como une milhares, senão de milhões de jogadores numa demanda pelos segredos enterrados neste mundo.

Veredito

Shadow of the Erdtree é uma expansão que oferece mais a quem não ficou satisfeito com Elden Ring. Mais do que um complemento ao jogo base, é uma extensão daquilo que o jogo base oferece, uma espécie de novo endgame, edificado num mundo compacto, absurdamente denso e inacreditavelmente melhor que o do original. Robusta e incrivelmente sólida, é uma expansão absolutamente imperdível para quem vagueia pelas Lands Between à procura de um novo desafio.

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Elden Ring: Shadow of the Erdtree - Análise

9
Incrível
Shadow of the Erdtree é uma enorme e fantástica expansão, para um já enorme e fantástico jogo, que reforça o estatuto colossal de Elden Ring e mostra a brilhante capacidade de construção de mundos do FromSoftware.
Elden Ring: Shadow of the Erdtree