Paper Mario: The Thousand-Year Door [Remake] - Análise

A maior e melhor epopeia de Super Mario!

Paper Mario: The Thousand-Year Door - Análise - Paper Mario: The Thousand-Year Door [Remake]

O aparente consenso que aponta The Thousand-Year Door (2004, Game Cube) como melhor Paper Mario, terá levado a Nintendo a priorizar o seu remake para a Nintendo Switch, em detrimento do primeiro jogo da franquia, Paper Mario (2000, Nintendo 64).

Encontrei, no que li ao longo do tempo sobre os Paper Mario originais, mais elogios direcionados a The Thousand-Year Door que a qualquer outro título desta franquia, sobressaindo-se aplausos à corajosa inovação da história, das personagens e das mecânicas de jogo, com especial destaque para a direção de arte e banda sonora.

Nas muitas horas que agradavelmente passei com ele, pude efetivamente atestar todas estas qualidades, percebendo rapidamente o porquê de se ter transformado num videojogo tão acarinhado. A essas qualidades, que bastariam para me agarrar ao jogo, soma-se um inesperado detalhe: percebi que o ponto de partida e os muitos lugares onde se desenrola a ação desta história são imensamente semelhantes a One Piece.

Não encontrei nenhuma informação oficial nesse sentido, mas é altamente provável que a grande aventura que se vive em The Thousand-Year Door seja inspirada em One Piece. Estranho seria se tantas semelhanças fossem mera coincidência. A inspiração vai do geral ao pormenor, da premissa ao desenvolvimento e, mesmo assim, The Thousand-Year Door consegue ser a sua própria aventura, cativando, por isso, fãs de Super Mario, fãs de RPG e agora, quem sabe, até fãs de One Piece.

O jogo arranca com a introdução de uma pequena cidade do litoral outrora destruída por um inexplicável desastre natural. Como consequência, a cidade acabou por se afundar nas profundezas do oceano. Neste mesmo local, foi construída Rogueport, local onde atualmente aportam muitos barcos e perigosas personagens à procura do afamado tesouro que se esconde algures por detrás da Thousand-Year Door.

A princesa Peach conseguiu obter o mapa que assinala a localização das sete lendárias Crystal Stars, que juntas servirão de chave para abrir a Thousand-Year Door. No entanto também os X-Nauts, liderados por Grodus, estão à procura das Crystal Stars, tentando reuni-las para dominar o mundo.

Não me vou alongar muito mais nas comparações com One Piece. Porém, a fim de pontuar o assunto, e com a garantia de te deixar apenas uma pequena unha das muitas inspirações nele presentes, encontrarás pormenores menos óbvios, como uma plataforma de execução que serve de centro para Rogueport (à semelhança daquilo que acontece com Loguetown), até a detalhes mais explícitos, como ilhas voadoras que ninguém acredita existir (à semelhança de todo o lore que circunda Skypea).

Paper Mario: The Thousand-Year Door
Paper Mario: The Thousand-Year Door

Seja como for, coincidência ou não, e como referi no início, o mérito de The Thousand-Year Door vai muito além da sua potencial inspiração, assentando sobretudo na invulgar coragem e vontade de inovar que este jogo transpira. Já tinha sentido isso em Super Mario RPG, título que quebra muitos dos moldes e lugares comuns da franquia, mas sente-se em The Thousand-Year Door uma coragem mais madura e direcionada, uma coragem inédita para a franquia Super Mario e até para a própria Nintendo, que resulta em muita criatividade.

Para além do óbvio - a deliciosa direção artística -, a engrenagem central de The Thousand-Year Door é a história. O ponto de partida é, já por si, aliciante. Que tesouro esconde aquela enigmática porta? Que aventuras nos aguardam em cada vila, cidade ou ilha que visitamos à procura de mais uma Crystal Star? Que estética exótica terá o próximo local? Que personagens irreverentes - companheiros e/ou inimigos - encontraremos?

Quanto mais tempo investimos nesta épica aventura, mais queremos saber sobre ela. A conclusão de um capítulo recompensa-nos com mais uma Crystal Star. Contudo, o que verdadeiramente nos move de capítulo para capítulo é a genuína vontade de ver como se vai desenrolar uma história de Super Mario que se afasta do ‘vamos de ponto A a ponto B para salvar a princesa Peach’, embora esse objetivo persista.

Resguardando-te ao máximo de spoilers, vou apenas falar um pouco dos traços gerais do primeiro capítulo, servindo-me deles para expor alguns dos muitos fatores que nos agarram a esta aventura tão peculiar do universo de Super Mario. A primeira aventura de Mario leva-o até Petal Meadows, não só porque está lá uma Crystal Star, mas sobretudo porque Mario quer ajudar Koops.

O Koops é um Koopa Troopa (raça das pequenas tartarugas que toda a gente conhece do universo de Super Mario), filho de um corajoso guerreiro que desapareceu após ter enfrentado o gigante dragão que ameaça aquela área. Ao contrário do que acontece noutros jogos da franquia, em The Thousand-Year Door há um investimento extra nas personagens e no que estas nos comunicam através do seu design, maneirismos e formas de conversar. O Koops tem um olho semi-fechado, um penso no nariz e uma postura contraída. Tudo isto comunica esforço, apesar da pouca auto-estima.

Ele sabe que para salvar o pai, terá de enfrentar perigos muito maiores que ele, figura e literalmente, nomeadamente um dragão. Ainda assim, e contra a vontade dos familiares, alia-se a Mario na jornada a Petal Meadows. Através da forma como fala, presenciamos a sua subtil, mas gradual evolução, transformando-se em alguém um pouco mais confiante e até reconhecido pela sua aldeia.

May will be a bit month for Paper Mario fans!

Todos os capítulos de The Thousand-Year Door estão preenchidos de pormenores como estes.

De personagens que contam muito através do seu visual, mas também através dos diálogos, dando-nos a sensação de estarmos num mundo com vida, com coisas a acontecer quer estejamos presentes, quer não.

Isto estava longe de ser uma sensação que esperava encontrar num jogo de Super Mario.

Vivian is a trans woman in the remake, marking a change from the original English localization.

Após tantos elogios, é a custo que tenho de apontar o dedo ao maior defeito do jogo: a superficialidade das mecânicas de jogo, em particular do sistema de batalha. É monótono e repetitivo. Foi-me removendo da história e até me foi retirando, a pouco e pouco, a vontade de chegar ao fim.

Uma epopeia desta dimensão exigia das mecânicas de jogo uma profundidade e diversidade capazes de manter o jogador investido em toda a aventura. The Thousand-Year Door pode variar entre as 30 e 60 horas de jogo, dependendo do quão investido estás em completá-lo a 100%. Em apenas dois capítulos (que se traduz sensivelmente em 4 horinhas de jogo) o aborrecimento já se fazia sentir.

Passo a explicar:

Na tua party podes ter duas personagens, o Mario e outra que é rotativa e à tua escolha. Cada personagem tem um número limitadíssimo de ataques diferentes, que teoricamente deveriam ser utilizados consoantes o inimigo que tens à frente, havendo personagens com mais ou menos vantagens contra determinados tipos de inimigos.

Com exceção de casos particulares, é raro sentires que a estratégia que criaste para determinado inimigo é recompensadora, sendo possível derrotar quase todas as adversidades seja qual for a estratégia em prática.

É certo que, o que para mim é o maior defeito de Paper Mario: The Thousand-Year Door - a ausência de um sistema de batalha mais complexo, diversificado e recompensador - poderá ser apenas mais uma qualidade para um jogador que queira apenas desfrutar da belíssima aventura de Mario e companhia (não se livrando, seja como for, de batalhar imensas vezes e repetir dezenas, senão centenas, de vezes, os poucos ataques que existem).

Veredito

Paper Mario: The Thousand-Year Door, reconhecido como um dos grandes clássicos da GameCube está de regresso, desta vez na Nintendo Switch. As melhorias estão à vista num remake que enaltece as maiores qualidades do original, sem, em momento algum, perder o charme da atmosfera única da GameCube. A sublime direção de arte e a deliciosa banda sonora continuam presentes e fazem deste a melhor forma de experienciar aquela que será até agora a maior e melhor epopeia de Super Mario.

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Paper Mario: The Thousand-Year Door - Análise

8
Muito Bom
As melhorias presentes em Paper Mario: The Thousand-Year Door enaltecem todas as qualidades do original, fazendo deste a melhor forma de experienciar aquela que será até agora a maior e melhor epopeia de Super Mario.
Paper Mario: The Thousand-Year Door [Remake]